Eu não nasci para ser sol. Ainda que, temporariamente radiante, o brilho transitório sucumbe à escuridão sem oferecer resistência. Os sombrios resíduos emocionais são as provas inequívocas de que nem sempre é possível controlar todos os danos.
(Em meu coração há lugares inóspitos onde a luz é incapaz de penetrar.)
Contudo, eu não almejo salvação. A vulnerabilidade nunca foi característica intrínseca de minha natureza: domino a arte de guerrear sem, no entanto, perecer na linha de combate. Embora a fria determinação tenha aspecto assustador, um olhar cuidadoso revela somente o empenho de quem pode contar apenas consigo mesma.
(Não trata-se de coragem. O medo, aliás, é um grande motivador.)
Eu estou fora dos padrões ideais. Portanto, não me inclua em categorias onde os elementos são didaticamente classificáveis. O meu ser é composto de fragmentos puros e indecentes, um amontoado de vícios e de virtudes que garantem a minha funcionalidade. Sendo assim, escolha a perspectiva que mais lhe agrada. Ou então, não se apegue aos detalhes: simplesmente reconheça que, em determinados momentos, somos apenas o que nos convém.